Prefeituras gastam R$ 4,3 bilhões devido a condenações judiciais em um ano
Um levantamento
inédito do site Meu Município aponta que as prefeituras brasileiras gastaram
juntas R$ 4,3 bilhões devido a condenações judiciais em 2015. A análise levou
em conta os empenhos de 4422 cidades em todos os estados do país.
O montante é 42,5%
superior aos R$ 3 bilhões, em valores corrigidos, que foram gastos há cinco
anos. O crescimento real, contudo, foi ainda maior já que na base de dados de
2010 constam gastos de 5496 municípios – mais de 1000 a mais do que em 2015.
O crescimento nos
últimos anos pode ser tanto um indicativo de que os tribunais estão sendo mais
rigorosos com as irregularidades cometidas pelos gestores públicos quanto uma
consequência da tendência de judicialização das políticas públicas.
“Na prática,
percebi que o grosso das condenações é relacionado a cirurgias ou a remédios
que não fazem parte da farmácia básica da prefeitura”, afirma o advogado
Aloísio Zimmer, que foi procurador-geral nos municípios de Canoas e
Cachoeirinha, ambos no Rio Grande do Sul. “Isto faz com que muitas cidades
acabem gastando mais com o que o Judiciário estabelece em casos individuais do
que com uma política pública coletiva racionalmente construída”.
Mais de R$ 1,8
bilhão dos dispêndios judiciais no ano passado foram feitos por capitais. O
município de São Paulo encabeça a lista com a bilionária cifra de R$ 1,3
bilhão. Em comparação com 2010, os gastos relacionados a decisões judiciais na
capital paulista cresceram 154%, três vezes mais do que a média nacional.
Segundo uma análise
dos dados feita pelo professor da FGV Direito Ivar Hartmann, existe uma forte
relação entre o PIB de cada um dos municípios e o gasto daquele com decisões
judiciais. “Um aumento de 2.100 reais no PIB de um município prevê um aumento de
1 real nos gastos daquela prefeitura com decisões judiciais”, diz Hartmann.
O caso São Paulo
Do R$ 1,3 bilhão
dispendido pela prefeitura de São Paulo com decisões judiciais, R$ 785 milhões
aparecem sob a rubrica “pessoal e encargos sociais” enquanto outros R$ 463
milhões foram classificados sob a rubrica “investimentos”, que indica
basicamente despesas judiciais relacionadas com obras ou equipamentos. Os R$ 99
milhões restantes forma classificados em “outras despesas correntes”.
Segundo o
procurador-geral do município de São Paulo Robinson Barreirinhas, a maior parte
dos gastos diz respeito a casos que datam principalmente dos anos de 1994 e
1995. “É uma herança maldita. A prefeitura errou no passado e a gente está
pagando por isso”, diz.
A legislação da época
previa um gatilho de correção inflacionária do salário dos servidores que não
foi cumprido, o que provocou uma enxurrada de condenações. Outro problema
recorrente que gerou inúmeras decisões contrárias foram desapropriações que não
pagavam o valor justo do imóvel. “A prefeitura fazia uma avaliação baixa,
depositava o valor e conseguia a emissão da posse. Depois, vinha a condenação
nos tribunais. Esta prática não é mais utilizada”, afirma.
Na atual gestão do
prefeito Fernando Haddad (PT), foram registrados R$ 4,7 bilhões em novos
precatórios e até o fim do ano deverão ter sido pagos R$ 5,2 bilhões. “Estamos
pagando mais do que entra, o que nunca aconteceu antes”, afirma Barreirinhas.
“Na gestão passada, por exemplo, foram pagos R$ 3,2 bilhões em precatórios,
enquanto entraram na fila R$ 8,9 bilhões em novas condenações”.
Outras capitais
A cidade do Rio de
Janeiro, a segundo colocada em despesas judiciais, gastou R$ 125 milhões por
causa de condenações enquanto Salvador, a terceira, desembolsou R$ 56 milhões.
Na Região Norte, a
campeã é Manaus, que teve de pagar R$ 16,5 milhões. Curitiba foi a capital que
mais teve de pagar condenações na região Sul, ao desembolsar R$ 26,8 milhões,
enquanto Goiânia liderou os desembolsos no Centro-Oeste ao atingir R$ 39,5 milhões.
Natal e Cuiabá
aparecem com nenhum real gasto porque provavelmente deixaram de informar esta
despesa à Secretaria do Tesouro Nacional.
O portal Meu
Município, que levantou os dados das condenações judiciais, é público e
gratuito. Ele organiza de forma simples os dados dos municípios brasileiros e
disponibiliza as contas de receitas e despesas, assim como indicadores
gerenciais, possibilitando a comparação com outras cidades. Todas as
informações disponibilizadas são extraídas do Ministério da Fazenda, da
Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e do IBGE.
Por Kalleo CouraSão Paulo
Fonte: JOTA
http://jota.uol.com.br/prefeituras-gastam-43-bilhoes-de-reais-devido-condenacoes-judiciais-em-um-ano